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06 fevereiro 2008

Reportagem jornal "Voz do Barreiro"



Clube de Futebol "Os Barulhentos"
Praticantes "barulhentos", mas regrados


Intitulam-se uma equipa de rua, não estão inscritos em nenhum tipo de associação ou federação e, porque estão vocacionados para a formação, não são selectivos na escolha dos atletas. Ainda assim, as regras e a disciplina são para respeitar não apenas dentro do campo e ninguém deve descurar o rendimento escolar. São o Clube de Praticantes de Futebol "Os Barulhentos" que acredita que, "com esforço venceremos"
Fazer amigos, aprender novas habilidades ou adquirir hábitos autodisciplina pode ser tão fácil como jogar a bola. Poderia ser este o lema do Clube de Futebol "Os Barulhentos" onde se fomenta o convívio e a prática do desporto nas camadas jovens e a promoção, e organização do futebol.

Com as características "sui generis" de um clube que se formou para dar a oportunidade, àqueles que não a tinham, de jogar um desporto de equipa, neste caso o futebol, modalidade que encontrou espaço num antigo baldio da freguesia da Baixa da Banheira, nasceram a 17 de Junho de 1990. Trata-se de "um desporto colectivo", como sublinha o mentor, sócio n° 1 e coordenador do projecto, Luís Paixão, que identifica aquele baldio inicial como suficiente para aquilo que desejava. Colocadas "quatro pedras a fazer de balizas e uma bola" estavam reunidas as condições para, sábado após sábado, os miúdos estarem prontos para mais um desafio, fossem eles "gordos, magros, altos, baixos, com mais ou menos jeito".

Ligado ao movimento associativo há alguns anos, conta que a faceta da competição, que selectivamente deixa de fora quem não tem perfil, não o agradava. Acredita mesmo que, desprovido daquela equidade, o desporto pode assumir uma faceta prejudicial para crianças e jovens. A chave, como explicou à Voz Desportiva, passa pela interacção entre os participantes neste projecto 'barulhento', "são de diversas escolas, andam na rua, garanto que os comportamentos deles são completamente diferentes, sabendo que são conhecidos aqui". "Só ao pensarem que alguém os pode conhecer, comportam-se de uma forma diferente", assinala.
Tornaram-se "barulhentos" porque sempre protelaram por aquilo que mais queriam. O mentor da iniciativa recua ao início do projec to e às saídas que faziam todos os sábados em direcção ao baldio. "Combinei com eles que todos os sábados, às 15h00, íamos jogar à bola — eu também tinha dois filhos -, mas às vezes não me apetecia, deixava-me estar a ver se eles se esqueciam e eles punham-se todos à minha porta aos gritos". Tornou-se, portanto, óbvio chamá-los de "barulhentos".
"Até aí, andávamos a brincar na rua, isto foi crescendo e, quando nos inscrevemos a primeira vez nos jogos juvenis da Moita, era preciso atribuir um nome". Deram-se a conhecer a outras equipas, precisamente, como "Os Barulhentos". O responsável salvaguarda, no entanto, que ser "barulhento" "é como o recreio de uma escola, os miúdos fartam-se de fazer barulho".

O rigor das presenças
Aos seis anos de idade, as crianças podem dar passos para se tornarem num "barulhento", ou seja, um jovem que fez o seu percurso na escola e, ao mesmo tempo, no campo de futebol 5 contíguo ao pavilhão da Escola Mouzinho da Silveira, o espaço que veio substituir o outrora baldio, que, entretanto, acolheu outro equipamento da freguesia.
"Se aparecer aqui um moço que queira treinar, treina, temos depois regras de disciplina que fazem com que ele fique enquadrado, ele não é inscrito logo, é registado que esteve cá, há depois uma minoria de atletas que podemos chamar de barulhentos". Luís Paixão explica assim que, para ser um "barulhento", há que esperar. "Tem que se ter 15 anos e o 9o ano" [sorrisos]. "Não pode chumbar", reforça, ressalvando que "há situações que não podem ser assim". A regra tem excepções, quando existem crianças com algumas dificuldades, nomeadamente, de aprendizagem. Neste caso, manda o seu propósito inicial de "não excluir".
Fora do âmbito das federações e associações, a equipa, inscrita no Instituto de Desporto de Portugal, participa em demonstrações e em torneios. Luís Paixão conta ainda que participam num dos eventos alusivos às comemorações do 25 de Abril, no Parque José Afonso, na Baixa da Banheira, a par de outras colectividades, em parceria com a Junta de Freguesia.

Entre os atletas, cujo escalão etário coincide com o período de escolaridade obrigatória, tudo é contabilizado. "Tivemos 32 miúdos no primeiro período", assinala que fica registado numa espécie de quadro de honra que, no final, permite a atribuição de um prémio a quem se destaca durante a época, que se rege pelo calendário lectivo. Entre presenças e ausências, justificadas ou não, faltas disciplinares, ou expulsões, tudo conta para a atribuição do prémio no final da época. "Fazemos a festa a 17 de Junho, quando fazemos anos, e encerramos a época", refere Luís Paixão. Naquele quadro de honra figuraram no último ano 58 atletas.

Uma marca para a vida
Prestes a atingir a maioridade, o projecto tem procurado colaboradores entre os atletas. Luís Paixão acredita que o testemunho está passado, havendo já quem possa continuá-lo.
Ligado ao projecto desde que ele nasceu, Paulo Moreira não tem dúvidas em assinalar as suas particularidades. "Enquanto na competição planeamos para o sábado e para o domingo, que é o dia da competição, aqui planeamos de forma a que todos se sintam integrados, que saiam satisfeitos, que todos participem, independentemente de ser menino ou menina, se é rico ou pobre, se é ou não dotado, se é gordo ou magro", distingue "a diferença deste clube para os outros". "No fundo, aqueles miúdos que temos aqui são aqueles que, se este clube não existisse, não tinham acesso a praticar alguma actividade desportiva gratuita e com alguma orientação".
Paulo Moreira está desde o primeiro dia ligado ao projecto. "Ser 'barulhento' é uma experiência muito interessante e, acima de tudo, teve uma importância muito grande para a minha orientação profissional", explica, identificando que a ligação ao futebol em tenra idade determinou a sua opção. "Formei-me em educação física e especializei-me em futebol, trabalhei cinco anos no Benfica e, este ano, estou no Belenenses", concretiza.
Passou de praticante a treinador e, quando a actividade profissional lhe deixou menos tempo disponível, ocupou-se das tarefas mais administrativas como dirigente. "Sempre que é preciso", frisa, arranja tempo para estar presente. "Venho aqui também para matar saudades e estou grato pela importância que teve". Por isso, procura arranjar tempo para transmitir a sua experiência, sempre que ela seja necessária.
Reconhece que é maior a sua experiência enquanto aluno do que enquanto formador. Mesmo assim, assinala que lidar com quem hoje chega para aprender é uma tarefa diferente daquela que as crianças da sua idade (na altura com apenas seis anos) proporcionaram ao mentor do projecto. "Enquanto aluno acho que era um aluno muito mais fácil de ser controlado, do que, actualmente, as crianças o são". Ainda assim, reconhece que as crianças "já têm uma motivação intrínseca" naquilo que toca às actividades desportivas. "Como gostam, é muito mais fácil controlar".

Retribuir
O projecto marcou também a vida de Miguel Jacob, há 16 anos ligado ao Clube de Futebol "Os Barulhentos", "como atleta e agora como dirigente". Acredita que o elo que mantém os jovens ligados ao clube é a "amizade". "Vamo-nos envolvendo e depois queremos ficar, não sendo possível estar como atleta, passamos para a fase seguinte, que é fazer o que já fizeram por nós", assume.
Quando fala daquilo que pode ser o futuro do projecto, destaca a importância de manter o simples convívio. "Não é ter pouca ambição, pelo contrário, gostava que evoluíssemos, mas também não ficava triste se continuássemos a fazer este tipo de trabalho". Refere que tem sido levantada a hipótese de "começar a construir uma base de ex-atletas para, daqui a uns anos, conseguirmos entrar nas competições oficiais", mas este propósito equacionado não o demove do objectivo primordial. "Se continuarmos a captar aqui os rapazes, nem que seja apenas nestas duas horas [aos sábados, entre as 15h00 e as 17h00], já ficava contente".
O capítulo da competição, admite, até poderia "cativar mais miúdos". "Sinto que há muitos que se dispersam e vão para outro sítio por causa disso, mas o objectivo principal acaba por ser agarrá-los aqui, pô-los a sair de casa". Aquele pulo para as competições acaba, por vezes, por coincidir com o limite da faixa etária com a qual trabalham. "Sinto-me contente quando os vejo darem-se bem a nível competitivo nos clubes da zona, que é para onde eles acabam por ir", confidencia. Este contacto com ex-atletas do clube acaba por surgir no âmbito daquele que acabou por ser o seu percurso desportivo. "Acabei por ligar-me às competições oficiais como árbitro, estou ligado à arbitragem e, às vezes, encontro alguns [atletas] que já treinei", conta. Não tem dúvidas em assinalar que, nessa altura, há disciplina e quer crer que isso se deve "ao que aprenderam" no clube.

Milene Aguilar - Jornalista de "voz do Barreiro"

1 comentário:

Ana Paula disse...

Tomei conhecimento há pouco tempo dos Barulhentos, através de uma entrevista que fiz a Paulo Moreira, para o nosso blog:
Os Pastéis em http://ospasteis.blogspot.com, se estiverem interessados podem visualizar a entrevista no nosso blog.
Movimentos, organizações, chamem o que lhe quiserem, como os Barulhentos são de vital importância para estes miudos, é o que os faz sair de casa e não só, é ao mesmo tempo o que muitas vezes os tira das ruas, fazendo com que se sintam parte integrante de algo importante que tem como objectivo entre outras coisa o desenvolvimento destes "putos" em homens do amanhã, com H grande.
Um bem haja para todas as pessoas que desinteressadamente e tão positivamente participam no crescimento dos nossos Homens de Amanhã.

Ana